A origem de uma data para comemorar o Dia do Mestre remonta ao tempo do então imperador D. Pedro I, que via decreto instituiu as escolas de primeiras letras, em 1827. Muitos anos depois a data tomaria cara de dia de festividades nas escolas, com atividades envolvendo familiares ou de feriado nacional, como é até hoje. Foi instituído assim para dar um refresco para os professores, em função do segundo semestre letivo ser mais longo e exigir mais de cada mestre. Em algumas regiões, atualmente, o feriado ainda é maior, estendido para o que se chama de “semana do saco cheio”. Uma vez que engloba o dia nacional de Nossa Senhora de Aparecida, seria melhor para todos – alunos descansariam e o corpo docente se reuniria para discussões várias.
Ao longo dos anos, não somente o feriado dedicado aos professores mudou, mas todo um contexto de como essa pessoa é vista em sala de aula. Nas décadas de 60/70, em que cresci, devíamos obediência a ele ou elas. Independentemente (ou não) da questão política em que o Brasil mergulhava àquela época, eles eram a autoridade em sala. E as arbitrariedades ou excessos aconteciam aos montes, aqui e lá fora. Lembro-me de uma colega, que veio dos Estados Unidos para estudar na minha sala. Ela dizia que lá, dependendo do que o aluno fizesse, levava reguada nas mãos como punição, entre outras coisas. Ir para a sala do Diretor era a pior, porque de lá seria suspensão por um ou até três dias.
De lá pra cá, muita coisa mudou, tanto no cenário sócio-político quanto no econômico e do ponto de vista psicológico. Existe maior abertura para diálogos em sala de aula, inclusive novos métodos foram inseridos no contexto da educação e formação do ser humano. Mas também passamos a viver uma realidade de sucateamento, precariedade, baixos salários, enfraquecimento das instituições em geral (Estado, família, escolas), aumento da pobreza e violência nas cidades. Tudo isso respingou sobre a figura do professor, que se tornou mais frágil diante de longas jornadas de trabalho em mais empregos, com baixos salários e mais cansaço. Hoje, inclusive, com o desemprego em alta no mundo todo, há a visão de que a educação já não leva muito a lugar nenhum. O professor, que passou a literalmente apanhar ou morrer na mão de alguns alunos acabou alvo das desigualdades sociais, deixando de ser valorizado – pelo Estado e pela população.
Ao professor, que ensina hoje os profissionais de sucesso de amanhã, resta se reinventar em períodos de escassez de incentivos. Especialmente em um tempo em que algoritmos regem cada vez mais nossas mentes e nossos movimentos.
Mas a mesma internet que tira empregos, gera oportunidades para outras carreiras acontecerem. Volto ao dicionário e o Oxford Dictionary define o professor como uma pessoa cujo trabalho é ensinar, especialmente em uma escola: uma língua, história, professor de ciências, professores de escolas primárias. No exemplo, “Há uma necessidade crescente por professores qualificados de Inglês de Negócios”.
Como aprendi que para ser considerado professor de uma língua, é preciso ser nativo do país cuja língua você ensina, então somos “coaches”. Uma categoria que se estende dos campos desportivos para treinar outras competências, especialmente as soft skills tão valorizadas. E essa nova categoria, segundo o dicionário, é formada por treinadores, formadores, instrutores, técnicos, cujo objetivo é ensinar preparar ou formar uma pessoa. O que muda entre professor e coach é a formação.
Em várias áreas, profissões requerem dois anos de estudos e várias horas de prática antes que o profissional tire o brevê para exercê-las. Outras são formadas no dia a dia da tecnologia, quase que como seu efeito. A figura do mestre – como no filme Sociedade dos Poetas Mortos, de 1989 – pode não mais existir, é fato – mas cada um de nós tem e terá um professor ou coach que porque se dedica, faz o aluno descobrir a sua potencialidade por meio daquela matéria, vai ficar pra sempre na sua memória. Não importa se apenas na data em que se comemora o Dia do Professor.
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